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Mar e devoção num só espaço, que é único no país

Ílhavo tem o primeiro centro de religiosidade de temática marítima em Portugal, que só “peca” por ainda ser pouco conhecido

Quem diria que o edifício que já foi o Quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo se tornaria num pólo museológico que é único no país? Com financiamento do Centro 2020 (programa operacional do Portugal 2020) em 85%, o antigo imóvel «foi reconvertido» pela mão da autarquia, albergando agora o Centro de Religiosidade Marítima (CRM) e não só.
Aqui também está sedeada a Confraria Gastronómica do Bacalhau e serão acolhidas a “sala-estúdio cinema” do projeto 23 Milhas e o Posto de Turismo, como explicou à nossa reportagem o diretor do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) durante uma visita guiada.
Chegando a este local emblemático da Avenida Manuel da Maia estamos «paredes meias com a Igreja [Paroquial de São Salvador de Ílhavo], sacristia e casa mortuária». Não é, pois, por acaso que uma das salas do CRM - a dos “Tesouros da Igreja de Ílhavo” - “guarda religiosamente” um rico espólio de objetos cerimoniais da Paróquia de Ílhavo. Entre estes, destaca-se, ao centro, a custódia renascentista, uma das mais importantes peças de ourivesaria da sua época. Sobressaem ainda homenagens a algumas figuras devotas à causa marítima e social em Ílhavo. O CRM foi inaugurado a 8 de agosto de 2021, no âmbito das comemorações do 84.º aniversário do MMI. Falamos de uma parte integrante do Museu Marítimo de Ílhavo, tal como acontece com o Navio-Museu Santo André, este último “atracado” no Jardim Oudinot. Os três (contando com o edifício principal, que inclui um aquário de bacalhaus) integram o circuito museológico do município.
O CRM, que Nuno Miguel Costa nos deu a conhecer, divide-se em quatro núcleos permanentes: “Mar e Devoção”, “Fé Ilhavense”, “Tesouros da Igreja de Ílhavo” e “Devoção Ilhavense”. Mas, chegados à entrada, ainda antes de subirmos - depois da bilheteira e da loja onde estão à venda artigos exclusivos - deparamo-nos com um espaço dedicado a exposições temporárias.
A escadaria leva ao andar principal, que começa com uma mezanine introdutória dos núcleos expositivos. Os primeiros dois encontram-se do lado esquerdo, enquanto os restantes se situam do lado oposto.
Virando, então, à esquerda, entramos na sala “Mar e Devoção”, onde se explora a relação da religião e das crenças na vida marítima - ligação que se prolonga, pelo menos, desde a época dos Descobrimentos, continuando até aos dias de hoje nas comunidades piscatórias, como refere o site do MMI.
Aqui encontra-se, por exemplo, uma imagem de São Rafael, que navegou durante anos no navio de pesca do bacalhau com o mesmo nome. Também nesta zona podem ser vistas seis imagens que estavam no altar da capela dos paquetes Vera Cruz e Santa Maria, bem como o altar da capela do Bairro dos Pescadores de Ílhavo.
Na sala seguinte, nomeada de “Fé Ilhavense”, exibe-se uma coleção de ex-votos, onde constam inúmeras peças oferecidas ao Senhor Jesus dos Navegantes como forma de agradecimento pela proteção nas aflições no mar. Entre as doações encontram-se pinturas alusivas ao tema marítimo, jarras, partituras tocadas em missas encomendadas e uma miniatura de um lugre bacalhoeiro, que integra anualmente o andor do Senhor Jesus dos Navegantes, e que vai continuar a sair à rua em dias de procissão.
Já à direita da mezanine temos a sala dos “Tesouros da Igreja de Ílhavo”. E, por último, o núcleo “Devoção Ilhavense” apresenta imagens e objetos de culto da paróquia, que são testemunhas da devoção local. Imbuído principalmente das celebrações padronizadas da Igreja Católica, estão também presentes no espólio desta sala alguns apontamentos que lembram a relação marítima de Ílhavo e dos povos da Ria de Aveiro.
O CMR  pode ser visitado de terça-feira a sábado, das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas, e aos domingos das 14 às 18 horas.

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