Artur Neves alega erro do Ministério Público no caso das golas
O ex-secretário de Estado da Proteção Civil, Artur Neves, defendeu, ontem, em tribunal, a existência de um erro da acusação no processo das golas, com uma confusão a propósito de uma troca de mensagens telefónicas sobre os “kits” de proteção.
Disse que o Ministério Público (MP) alegou uma suposta proximidade com a mulher do responsável pela empresa que forneceu os “kits” no projeto “Aldeia Segura”, chamada Isilda Gomes, que era em 2018 presidente da junta de freguesia de Longos, no concelho de Guimarães. Porém, explicou que a troca de mensagens tinha ocorrido com a então presidente da Câmara de Portimão e atual eurodeputada, Isilda Gomes.
«O primeiro choque foi quando fui constituído arguido e o segundo foi com a acusação de uma suposta relação com a mulher do empresário dos “kits”», realçou o ex-governante, que diz ter-se questionado se «essa senhora» ter-lhe-á enviado «alguma mensagem».
Ainda na primeira sessão do julgamento, Artur Neves revelou que foi à procura do contacto de Isilda Gomes, que presidia à Junta de Freguesia de Longos (PS), questionando se tinha enviado alguma mensagem, ao que a visada respondeu que nunca tinha mandado mensagem e que só tinham estado juntos num evento, mas sem falarem.
«Eu nunca me filiei no PS, sempre fui independente», declarou o ex-autarca arouquense, com nota de que o telemóvel que lhe mandou a mensagem «era da senhora vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Isilda Gomes».
Sobre os procedimentos, refutou qualquer conluio e reiterou que apenas autorizou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a fazer despesa e que os valores das propostas adjudicadas ficaram abaixo dos preços fixados.
Enfatizou ainda não ter dado qualquer indicação ao então presidente da ANEPC, general Mourato Nunes, sobre a escolha das empresas.
Assinalou que as golas nunca foram um equipamento de proteção contra incêndios e criticou a difusão de imagens das golas a arder com a chama de um isqueiro.
«É uma imagem brutal», considerou, acrescentando ter sido necessário explicar que «a gola era um ensinamento, para transmitir aos cidadãos de que deviam ter os “kits” e as golas para se protegerem».
O MP reiterou que houve ocultação de procedimentos e fraude na obtenção de subsídios para os “kits” de proteção do projeto “Aldeia Segura”, enquanto os arguidos reclamaram inocência.
Considerou que a adjudicação das golas e dos “kits” para a Foxtrot estava decidida «antes do concurso», sabendo os arguidos que a empresa «não tinha experiência para esta prestação de serviço».
Estão em causa crimes de fraude na obtenção de subsídio, participação económica em negócio e abuso de poder. O julgamento continua na próxima segunda-feira.