Idoso morre em Ansião após esperar por atendimento do 112
Um idoso de 95 anos morreu na segunda-feira em Ansião, distrito de Leiria, após esperar por atendimento pela linha 112, tendo sido um vizinho a deslocar-se aos bombeiros para pedir ajuda, disse hoje o comandante da corporação local.
“Houve constrangimentos no acionamento do socorro para esta vítima. Acabou por ser feito via pessoal no nosso quartel, por um vizinho da vítima, porque estavam já com várias tentativas de contacto com a linha 112 na passada segunda-feira, dia 04, e não obtinham resposta”, afirmou à agência Lusa José Antunes, explicando que foi a mulher da vítima que pediu ao vizinho para se deslocar ao quartel dos Bombeiros Voluntários de Ansião.
Segundo José Antunes, uma das equipas da corporação “deslocou-se imediatamente ao local” e, quando chegou junto à vítima, que “estava em paragem cardiorrespiratória”, os operacionais “verificaram que havia um telefone que estava com uma chamada em curso, com 28 minutos, para tentarem obter ligação com a linha 112”.
O comandante adiantou que os bombeiros pediram “para não desligarem [a chamada] e colocarem em alta voz, e procederam de imediato ao protocolo de reanimação”.
“Passados 35 minutos dessa chamada, por volta das 22:37, a linha 112 atendeu e fizemos o trabalho habitual, que foi o pedido de passagem para o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], a passagem de dados e o respetivo pedido de apoio diferenciado”, esclareceu, desconhecendo se antes desta chamada terão sido feitas outras.
Esse apoio “foi enviado através de uma ambulância de suporte imediato de vida, que está baseada no hospital de Avelar [Ansião], e, posteriormente, pela VMER [Viatura Médica de Emergência e Reanimação] do Centro hospitalar e Universitário de Coimbra, por volta das 23:10 e, depois, à chegada do médico ao local, foi declarado o óbito”, precisou.
O responsável afirmou que o idoso “estava a confecionar o jantar para ele e para a esposa”, portanto tratava-se de “uma pessoa ainda autónoma e ativa”, esclarecendo que a situaçao ocorreu “dentro da vila de Ansião, muito próximo” do quartel dos bombeiros.
Questionado sobre se tem recebido queixas devido aos constrangimentos na linha de emergência nacional, este responsável reconheceu que se registou “agora um agudizar da situação na passada segunda-feira, com a greve”.
“Os constrangimentos têm sido já há algum tempo, não posso afirmar que seja com regularidade, mas, frequentemente, acontece”, declarou José Antunes.
A este propósito notou que, por vezes, “mesmo na passagem de dados” pelos operacionais da corporação, estes não conseguem “o contacto desejado nos tempos que estão preconizados para a resposta” aos pedidos.
“As pessoas também quando nos ligam diretamente [e] que temos de fazer o procedimento de fazer a passagem para os CODU, para fazerem eles a própria triagem, estamos, por vezes, cerca de 20, 15 minutos, à espera que aconteça o estabelecimento da ligação”, exemplificou.
Para o comandante, esta situação “traz sérios constrangimentos ao socorro, é óbvio, em primeiro lugar, mas depois também aquilo que é a pressão que é causada” aos bombeiros, pois “são eles que se dirigem aos locais e, muitas das vezes, as populações não entendem estes atrasos e fica sempre no ar a sensação de que o atraso se deveu aos bombeiros quando não corresponde à realidade”.
José Antunes defendeu que está na altura de todos os responsáveis pelo socorro no país se reunirem à mesma mesa e perguntarem que “socorro é que queremos para as populações”.
“Já tivemos momentos muito bons no socorro em Portugal. Esse momento muito bom, pelo menos na rapidez - obviamente que muitas coisas melhoraram -, mas na rapidez era quando as populações ligavam diretamente para os corpos de bombeiros e tínhamos essa autonomia de enviar logo meios diretamente, coisa que agora nos castram”, observou.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião referiu que agora se tem de “passar sempre por uma triagem” e “aguardar sempre que alguém dê ordens”.
“Ligam para o 112 e o 112 é que aciona os meios, que são maioritariamente dos corpos bombeiros em todo o território nacional”, adiantou, salientando que “há coisas que vão ter de mudar”.
Os técnicos de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica - uma estrutura que tem menos de metade de elementos do que o previsto no quadro – estavam a fazer greve às horas extraordinárias para pedir a revisão da carreira e melhores condições salariais, uma situação que criou vários problemas no sistema pré-hospitalar e na linha 112.