Universidade de Aveiro vai investigar indústria do vidro para valorizar património de Azeméis
A Universidade de Aveiro (UA) vai colaborar com o município de Oliveira de Azeméis para investigar a indústria do vidro nesse concelho da Área Metropolitana do Porto, com vista a potenciar a divulgação cultural e turística desse património.
Segundo revela hoje a autarquia localizada no distrito de Aveiro e que aí acolhe um polo da UA, as duas instituições já assinaram para o efeito um protocolo de colaboração de três anos, visando a recolha, validação e promoção do legado do vidro no território de Azeméis.
“A UA terá como missão identificar e registar o papel do vidro no concelho enquanto criador da identidade coletiva local e irá também propor dinâmicas para o futuro Centro Interpretativo do Vidro, que está em construção num edifício do Parque de La Salette”, declarou à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, Joaquim Jorge Ferreira.
Destinado a reposicionar o território “com iniciativas imateriais, culturais e simbólicas ligadas ao vidro”, a parceria vai implicar tarefas como as seguintes: a identificação e o registo de práticas contemporâneas em contexto de dinâmicas tradicionais; a sinalização do legado do vidro ligado ao território, aos cidadãos, à indústria e à história; a aproximação entre artesãos, profissionais, indústria e comunidade; a conceção de produtos e serviços distintos e inovadores alicerçados em sistemas de produção e consumo sustentáveis; e a promoção de estudos colaborativos em áreas científicas ligadas ao restauro, à arte, à arqueologia, aos materiais, à tecnologia, aos ofícios e ao turismo.
O protocolo estabelece, em concreto, que caberá à UA desenvolver “novos caminhos” de criação, através da investigação e exploração de novas abordagens tecnológicas e criativas entre estudantes de design, designers, engenheiros e artesãos, e envolvendo também a comunidade escolar” – com o que se pretende “não só perpetuar a memória da comunidade e da região, como também traçar e expor novos caminhos artísticos e técnicos para o trabalho do vidro.
Desse trabalho global – que a câmara financiará com cerca de 105.000 euros – deverão ainda resultar inventários com caráter bibliográfico, histórico, documental, técnico, social e etnográfico, além de uma monografia, um “plano de ação prospetivo” e, como destaca o autarca socialista, “o processo de inscrição do vidro no Inventário Nacional de Património Cultural”.
Joaquim Jorge Ferreira reconhece que “esse trabalho identitário é uma etapa muito exigente” no processo de valorização do património vidreiro local, até porque “a escassez de registos e a idade avançada dos vidreiros implicam investigação urgente”, mas acredita que a UA é a parceira certo para a tarefa, como entidade “determinante e fundamental para esta investigação”.
Martinho Oliveira, representante da referida universidade enquanto diretor da ESAN - Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologia de Produção Aveiro-Norte, instalada em Oliveira de Azeméis, concorda que em causa está “um grande desafio” e promete rigor na sua concretização.
“O nosso trabalho será desenvolvido para que se tenha a clara noção do que o vidro representa historicamente para Oliveira de Azeméis e para o seu desenvolvimento local”, garante o académico.
Com atividade documentada nessa indústria desde 1528, o concelho de Oliveira de Azeméis teve na Fábrica de Vidro do Côvo o que a autarquia descreve como “uma das primeiras e mais duradouras” unidades produtivas desse segmento no país, fornecendo indústrias como a de farmacêutica e perfumaria, e mais tarde influindo também nos setores dos moldes e plásticos.
Entre o século XVI e a década de 1990, essa fábrica e todas as outras que proliferaram no concelho – entre as quais se destaca o Centro Vidreiro do Norte de Portugal – foram assim “o núcleo de importantes atividades produtoras, levando a todos os pontos do país vidros de grande perfeição e utilidade”.
Caso essa herança venha a considerar-se como tendo potencial para ser classificada como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, o presente protocolo estabelece que a UA “colaborará na instrução do processo de candidatura e acompanhará o desenvolvimento do respetivo processo”.