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«Os provincianos, de um modo geral, estão fora da província»

Portugal carece de «medidas de democratização da cultura e de facilitação do acesso», assume a ministra Dalila Rodrigues em entrevista ao Diário de Aveiro

Dalila Rodrigues, ministra da Cultura, participou na inauguração da Agrovouga, na sexta-feira. Depois de visitar a feira, a governante sentou-se com o Diário de Aveiro no auditório do Parque de Exposições. Explicou porque decidiu participar numa feira agro-pecuária e falou dos seus primeiros meses no Ministério e do que tenciona pôr em prática nos próximos anos. Na entrevista, mostrou-se preocupada com a «taxa de participação baixíssima» dos portugueses na cultura e assumiu como um «dever» aplicar as políticas culturais «em todo o território». «É absolutamente verdade» que o país é excessivamente centralizado, disse.

Diário de Aveiro: O que a trouxe a Aveiro e, em particular, à Agrovouga? É um sítio improvável para a visita de uma ministra da Cultura, ou não?
Dalila Rodrigues: Desde o início da minha nova condição como ministra que desejo vir a Aveiro, capital portuguesa da cultura. Deu-se a coincidência feliz de ter encontrado em Faro o presidente da Câmara de Avei­ro, no âmbito da Cimeira Luso-Espanhola, e de lhe ter transmitido o meu desejo de vir a Aveiro. Ele disse-me que o próximo evento seria a Agrovouga, em que estaria presente o ministro da Agricultura. Eu achei perfeito, porque entre as 25 medidas para 2025 existe uma designada “Estudos da Paisagem”, em colaboração com os ministérios da Agricultura e Pescas e do Ambiente e Energia. É uma abordagem multidisciplinar que tem na paisagem um tema com múltiplas possibilidades de abordagem. Desde logo, o conceito remete para a dimensão artística e cultural, mas também para as relações económicas, sociais e ecológicas. A paisagem numa perspetiva que valorize o território e o modo como se manifestam na paisagem práticas culturais ancestrais. É também um tema a partir do qual tem lugar a criação contemporânea. Portanto, a minha presença aqui deve-se ao facto de Aveiro ser capital portuguesa da cultura, mas também pelo facto de a cultura e a agricultura terem uma relação profunda. As práticas culturais são tanto na cultura material, que se expressa através dos instrumentos, dos objetos ligados aos ciclos do cultivo, como na cultura imaterial, ou seja, é nos ciclos de cultivo que a dança, a música e uma série de expressões imateriais estão ancestralmente associadas. A matriz agrícola da cultura rural é indissociável de todas as práticas culturais.

Tem dito que quer dar um impulso novo às bibliotecas. Qual a sua visão para estes equipamentos?
A identificação das bibliotecas como centros ativos da cultura no território passa, desde logo, pelo número de bibliotecas que existe de norte a sul e do interior ao litoral. Dos 308 municípios, 303 têm biblioteca. Há cinco municípios sem bibliotecas e é fundamental iniciar o processo de colmatar este vazio cultural, mas não há dúvida que a biblioteca é a instância que nos permite uma cobertura territorial e uma a­brangência geográfica absoluta. Um dos princípios das políticas culturais que defini é o da cobertura territorial - é um dever agir em todo o território. Nós não podemos ter políticas que não sejam abrangentes, que não pensem na longa duração, embora seja possível haver medidas pontuais sem um caráter estruturante.

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Novembro 18, 2024 . 09:00

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