Advogado russo condenado a sete anos por opiniões contra guerra
Um tribunal russo condenou hoje um advogado a sete anos de prisão por se ter manifestado contra a guerra na Ucrânia nas redes sociais, afirmou um grupo russo de defesa dos direitos humanos.
O veredito no caso de Dmitry Talantov, que foi presidente de uma associação regional de advogados na república central russa da Udmúrtia, é o mais recente caso de repressão contra a opositores ao Kremlin pela invasão à Ucrânia em fevereiro de 2022.
Talantov é um das dezenas de russos detidos ao abrigo de uma lei adotada pouco mais de uma semana após a invasão, que proíbe essencialmente qualquer expressão pública sobre a guerra que se afaste da narrativa oficial do governo, que lhe chamou "operação militar especial" e que argumentou ser necessária para "desnazificar" o poder de Kiev e proteger populações pró-russas.
A OVD-Info, uma organização russa de defesa dos direitos humanos que acompanha as detenções políticas e presta assistência jurídica, indicou hoje que Talantov foi acusado de incitar ao ódio e de “divulgar informações falsas” sobre o exército.
Em várias publicações nas redes sociais, o advogado de 63 anos condenou o ataque da Rússia à Ucrânia. Foi detido em junho de 2022 e passou mais de dois anos atrás das grades.
“Uma vez olhei para a fotografia de uma mulher ucraniana mutilada e decidi que não podia continuar em silêncio. Mas continuei a ser advogado. Publiquei a minha opinião de uma forma que não viola a lei formalista. E sabem que mais? Não é problema meu que um ato normal seja visto por alguém como um crime”, escreveu Talantov numa carta divulgada pela OVD-Info.
Hoje, um tribunal da cidade de Zavyalovo, na Udmúrtia, uma região situada a cerca de 900 quilómetros a leste de Moscovo, declarou Talantov culpado e condenou-o a sete anos de prisão.
De acordo com os dados do grupo, cerca de 1.100 pessoas alvo de processos criminais devido às sua posições antiguerra desde fevereiro de 2022. Atualmente, 340 pessoas estão atrás das grades ou foram internadas involuntariamente em instituições médicas.
Antes da sua detenção, Talantov foi presidente da Câmara de Advogados da Udmúrtia. Fez também parte da equipa que defendeu o antigo jornalista Ivan Safronov, acusado de traição num processo que surgiu após reportagens suas que expunham incidentes militares e negócios de armas obscuros.