Faleceu Aquiles Capela, o mestre do bandolim
O Diário de Aveiro entrevistou-o em setembro passado, na sua casa, no lugar da Lomba, freguesia de Santo António de Vagos, tendo ficado rendido a um homem que, durante a sua longa vida, foi uma fonte de inspiração e também de esperança.
O “Ti Aquiles”, como muitos lhe chamavam, nasceu a 2 de fevereiro de 1924, em casa, na Lomba, freguesia de Santo António de Vagos. «Ali, para o lugar da Quintã, para aí a sete quilómetros daqui, há uma grande festa - Festa de Santo Inácio, do Boco. A minha mãezinha ia para lá a pé para ver a festa (ela costumava lá a ir), chegou a meio do caminho, começou com dores e virou para trás para eu nascer. Nasci às quatro da tarde», recordou na altura, com a saudade estampada no rosto.
Aquiles Capela teve quatro irmãos. Os pais viviam, tal como ele, na Lomba. A mãe «tinha uma loja [mercearia]» e o pai era «guardador de touros [de gado] na floresta», trabalhando por conta de outrem.
Também ele trabalhou para outrem, como «comerciante de produtos da lavoura», antes de o fazer por conta própria, o que só aconteceu depois de casar. Aquiles Capela garantiu-nos ter sido «um “senhor”. Era o maior comerciante (de batatas) do distrito, tendo fundado, em 1951, a “Batatas Capela”, sediada na Lomba, cuja atividade é a comercialização por grosso de produtos agrícolas.
A sua empresa foi a primeira no país a exportar batata, cebola e alho para África, não esquecendo, contudo, o mercado nacional. Aquiles Capela chegou, mesmo, a receber «um prémio por ser aquele que mais comprava batatas aos lavradores».
Para além do «armazém», também teve «uma mercearia», no rés do chão da casa onde vivia e ainda vive, e «um posto de leite».
Casou aos 23 anos com a filha de um alfaiate, com a qual teve cinco filhos, oito netos e quatro bisnetos, que o mimavam muito.
Aprendeu a tocar bandolim «para aí com uns sete anitos, sozinho». Músico autodidata, que também sabia tocar viola, garantiu que foi «o homem que mais tocou na vida». Fez parte de várias tunas, entre as quais as das universidades seniores de Vagos e de Águeda; acompanhou o Grupo Folclórico de Santo António de Vagos em atuações; pertenceu ao grupo Toca e Bira, do Banco Fonsecas & Burnay. Aliás, com este último «corri mundo», tendo atuado em todo o país, na América, na Alemanha, etc.. Ultimamente, tinha ensaios com o grupo Amigos da Música. Amigos da música e, igualmente, amigos para a vida, que às quartas-feiras à tarde vinham a sua casa para ensaiar e conviver. A título de curiosidade, note-se que Aquiles Capela tocou, ainda antes das férias de verão, na escola da bisneta (na EB1 da Quintã).
Falamos de um homem verdadeiramente da terra. E isto não só porque esteve ligado à lavoura. Aquiles Capela e o padre Manuel Creoulo, de quem era muito amigo, formaram uma “dupla” que muito dinamizou a freguesia de Santo António de Vagos. Ambos estiveram na origem, entre outras coisas, da própria freguesia e da Rádio Vagos FM, inicialmente Rádio Boa Nova.
O centenário faleceu este último sábado. O funeral realiza-se esta segunda-feira, pelas 15.30 horas, na Igreja Paroquial de Santo António de Vagos, seguindo, depois, para o cemitério local onde o corpo irá a sepultar.
O nosso jornal endereça à família e aos amigos os sentido pêsames.