Estudantes da UA vencem Prémio John Goto 2024
Maíra Ortins, mestranda em Criação Artística Contemporânea, e André Araújo, antigo estudante do mesmo mestrado e atual doutorando em Criação Artística, ambos do Departamento de Comunicação e Arte (DeCA) da Universidade de Aveiro (UA), foram os vencedores da edição deste ano do Prémio John Goto, promovido pela Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD) da Universidade do Porto.
Natural de Recife, no Brasil, e com uma carreira marcada pela articulação entre memória, oralidade e questões de género, Maíra Ortins apresentou uma instalação interativa que cruza memórias familiares e questões de identidade e género.
Inspirada pelas histórias da sua avó e pelo rio Formoso, desenvolveu um trabalho que integra bordados tradicionais, tecnologia digital e som. «O fio condutor que me levou a pensar a liberdade no feminino e a relação disto com este trabalho deu-se pelas mãos da minha avó, que recusara ser subjugada a certas regras que pudessem cercear a sua liberdade», salientou.
Disse que entre o rio e a costura, profissão da avó, há «mais aproximações» do que inicialmente poderia imaginar, com nota de que o município de Rio Formoso «é repleto de histórias, lendas que conectam costureiras (entre agulhas e linhas) ao rio», o que a levou «a construir uma metáfora entre o fluxo das águas e o desenho costurado por uma agulha de máquina sobre o tecido».
Para a artista brasileira, o apoio do DeCA foi essencial na conceção do projeto. «Compreendi, desde o princípio, que as disciplinas se correlacionavam, sendo elas essenciais para embasar teoricamente o projeto», acentuou, precisando que os temas propostos pelos professores em diferentes disciplinas «complementavam-se de tal forma» que lhe permitiram «pensar o trabalho criticamente».
Motivado pela oportunidade de dar um impulso ao seu trabalho artístico, André Araújo não hesitou em se candidatar ao Prémio John Goto. E destacou-se com “El Caserio”, uma obra que explora as dinâmicas da memória coletiva nas comunidades da fronteira luso-espanhola. Combinando fotografia analógica e imagens de arquivo, o artista procurou resgatar histórias de laços familiares e culturais marcados pela geografia e pelo tempo. «Os lugares estão cercados e sitiados por tramas de histórias que os moldam e legitimam como espaços vividos», assinalou, com a nota de que «a Fronteira, muitas vezes vista como uma linha num mapa - para alguns, motivo para um muro - é, contudo, um espaço do “entre”, de circulação e de memória».
Enfatizou, ainda, que o DeCA foi determinante na construção da sua prática artística. «Se hoje tenho um percurso cada vez mais consolidado no universo das Artes Visuais e da Arte Contemporânea, foi a presença no mestrado que me levou a questionar os modos de fazer como gatilho para uma reflexão profunda sobre a realidade», declarou.