Relatório recomenda reforço da capacidade para atrair médicos para o SNS
Uma maior capacidade de recrutamento de médicos para o SNS é uma das recomendações do grupo de trabalho que está a avaliar o desempenho do Plano de Emergência e Transformação na Saúde e que entregou hoje o primeiro relatório.
Criado no final de agosto por despacho da ministra da Saúde, o grupo de trabalho liderado pelo pneumologista Carlos Robalo Cordeiro está a avaliar, acompanhar e a monitorizar a execução do plano, que entrou em vigor a 29 de maio e é composto por cinco eixos prioritários que incluem 54 medidas para serem implementadas de forma urgente, prioritária e estrutural.
Em declarações aos jornalistas após um encontro com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a quem entregou o primeiro relatório de avaliação, Carlos Robalo Cordeiro explicou que o grupo avaliou 15 medidas urgentes e 24 medidas prioritárias, até 20 de dezembro.
O pneumologista manifestou preocupação com a escassez de recursos humanos, nomeadamente de médicos em algumas especialidades em alguns pontos do país e com “alguns dos motivos porque isso acontece”, nomeadamente “alguma desvalorização das carreiras”, aspetos salariais, de condições de trabalho.
Nesse sentido, a recomendação do grupo de trabalho ao Governo é a necessidade de haver “uma maior capacidade de recrutamento de médicos para o Serviço Nacional de Saúde relativamente às condições de trabalho, à remuneração, à progressão na carreira e à atratividade da carreira médica”.
Também na área dos cuidados de saúde primários é preciso fazer esse reforço, disse, lembrando que relativamente a 2023 há mais 200 mil portugueses com médico de família, mas ainda há 1,5 milhões que não têm.
O grupo de trabalho defende também o reforço da articulação entre o setor público, social e privado, destacando a criação das USF Modelo C, que também concorre para que eventualmente haja mais atração de médicos de família, salientou.
"Há várias medidas que têm naturalmente que ser tomadas, mas, apesar de tudo, houve alguma contratação de mais médicos", disse.
Sublinhando que “há prazos de medidas” que devem ser revistos ou que “não haja capacidade de as implementar”, Carlos Robalo Cordeiro destacou aspetos que considera fundamentais no plano, um dos quais o acesso, que é “a palavra-chave” em qualquer um dos eixos do plano, sendo o outro a prevenção.
“Como pneumologista (…) fico muito satisfeito também por estarem já executadas medidas de reforço da prevenção das infeções respiratórias, através da vacinação”, mas, defendeu, “implementaria de forma crescente, a par da criação de melhores condições de acesso, melhores formas de prevenção da doença, porque é isso que devemos fazer para melhorar os cuidados de saúde e a qualidade de vida dos portugueses”.
Aludindo à Linha SNS Grávida, uma das medidas do plano, realçou o facto de cada vez mais se pretender implementar um contacto prévio antes da deslocação ao hospital para tentar retirar “as situações não urgentes” da urgência.
“Já há uma diminuição desde que existe a Linha SNS 24 de 26% do recurso às urgências por parte das grávidas”, observou.
Questionado se esta diminuição também poderá dever-se ao facto de haver urgências fechadas, afirmou que esta situação não aconteceu apenas este ano.
“A mim não me compete criticar esses aspetos da política. Não sou um político, nós somos um grupo apolítico e, portanto, técnico e independente para avaliar a implementação do plano de emergência e transformação, mas naturalmente que os problemas existem e é por isso é que há este plano para tentar resolver os problemas”, comentou.
Também questionado sobre problemas na linha SNS 24, inclusive o encaminhamento errado de utentes, Robalo Cordeiro referiu que o relatório fechou em 20 de dezembro e não teve em consideração este problema, mas é natural que tenha que ser avaliado: “Os erros devem ser evitados” e minimizados.
Resumindo, o especialista disse ser “um plano arrojado”, porque “muitas das medidas são de facto arrojadas e foram implementadas um pouco pela força da necessidade e da dinâmica” da situação que se vive no SNS.
“Tem de haver medidas pragmáticas, transparentes e que permitam fazer a todo o tempo (…) a sua avaliação e monitorização” para melhorar a qualidade de vida e a saúde dos portugueses.