Polémica reacende-se em Aveiro no dia da trasladação de Eça de Queiroz para o Panteão
Cultura No dia em que os restos mortais do escritor Eça de Queiroz foram trasladados para o Panteão Nacional, ontem, reacendeu-se em Aveiro a polémica em redor do solar do avô, o conselheiro Joaquim José de Queiroz, em Verdemilho, na freguesia de Aradas, ou melhor, de parte da fachada que resta do edifício, que o neto frequentou nos primeiros anos de vida. Eça de Queiroz esteve, pelo menos, na casa do seu avó, em Aradas, e também na de José Estêvão, na Costa Nova, há cerca de 130 anos.
Um dos protagonistas do dia da reabertura da polémica foi o socialista Alberto Souto de Miranda, que presidiu à Câmara de Aveiro, entre 1998 e 2005. «Fiz o que pude para a recuperação dessa casa para aí instalar um centro queirosiano: o estudo de arquitetura foi aprovado e um protocolo com o proprietário fora conseguido. Passaram 20 anos e nada foi feito. Sobra uma parede», escreveu ontem nas redes sociais.
Escreve sobre a sua ação na câmara e do atual presidente, Ribau Esteves (PSD), recordando que, em 2017, «anunciou com pompa e circunstância que a obra iria avançar. Nada se fez. A não ser uma bomba de gasolina... e uma estatueta indigna». Avaliando as opções de investimento de Ribau Esteves, Alberto Souto de Miranda critica o social-democrata por gastar «um milhão de euros, que bem daria para tal centro (queirosiano), em dois desastres escultóricos (a esfera nas “Pontes” e o monumento evocativo da muralha quinhentistas de Aveiro), o que qualificou de «sumidades insignificantes».
Naquela zona, a antiga casa resumida à fachada a manter, a rotunda do Botafogo, onde se encontra o busto do escritor, a estação de serviço e um restaurante, estes já concluídos, além de um prédio de habitação e um jardim temático - estes dois por construir -, integram o “Estudo Urbanístico da Área Envolvente à Rotunda do Botafogo”, definido para garantir «a sustentabilidade das operações urbanas perspetivadas e a preservação dos valores culturais».
Jardim temático
Junto à fachada, o investimento de um privado, segundo acordado com a câmara, já concluiu o restaurante e a estação de serviço, faltando um prédio de habitação e o jardim temático queirosiano contíguo à fachada, cuja execução ainda não se perspetiva.
Sobre Alberto Souto, Ribau Esteves disse, ontem, ao Diário de Aveiro, que enquanto «uns escrevem nas redes sociais, outros investem». Mais do que obra física, ou seja, a recuperação total da casa do avô de Eça, Ribau Esteves destaca o legado literário do escritor. «O mais importante é a obra de Eça de Queiroz, o que interessa mais para a nossa vida, para a cidadania e portugalidade».
Neste sentido, a câmara, município queirosiano, associou-
-se à Fundação Eça de Queiroz e realiza um «trabalho regular», no âmbito da Feira do Livro, exposições, visitas de escolas, lançamento de livros, deslocações à Casa-Museu Eça de Queiroz (na Casa de Tormes), e os jantares queirosianos, que a câmara organiza e financia, no hotel MS Collection, instalado no antigo Palacate de Valdemouro, antiga residência da família do romancista. Nos anteriores mandatos «não aconteceu nada», disse.