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Patrocínio Azevedo nega ter permitido “coisas do arco-da-velha” a Malafaia

Terceira sessão do julgamento da Operação Babel está relacionada com a alegada viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Vila Nova da Gaia

O antigo vice-presidente da Câmara de Gaia Patrocínio Azevedo negou hoje ter “dado cobertura” e permitido “coisas do arco-da-velha” ao empresário Paulo Malafaia, o qual considerou o ex-autarca um “contacto de ouro” e “o futuro presidente da câmara”.

Na terceira sessão do julgamento da Operação Babel, relacionada com a alegada viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanísticos em Vila Nova da Gaia, o arguido foi confrontado pelo Ministério Público (MP) com uma escuta telefónica de uma conversa entre Paulo Malafaia e Francisco Pessegueiro, construtor civil, e que está a ser julgado no âmbito da Operação Vórtex.

O processo Vórtex, que envolve os os ex-presidentes da Câmara de Espinho (município vizinho de Gaia) Pinto Moreira e Miguel Reis, está relacionado com "projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos”.

No decurso da conversa, mantida a 18 de agosto de 2022, o empresário ligado ao ramo imobiliário explicou a Francisco Pessegueiro os contornos da relação que mantinha com o então vice de Gaia.

Aquilo que tenho lá feito [em Vila Nova de Gaia] são coisas do arco-da-velha e ele [Patrocínio Azevedo] tem dado muita cobertura, tem-me ajudado muito”, afirmou Paulo Malafaia.

Nesse telefonema, reproduzido hoje em julgamento, o empresário referiu que Patrocínio Azevedo lhe “pediu” o arquiteto Souto Moura para fazer o projeto de arquitetura do Centro Cultural e de Congressos e do hotel (Skyline), “o que resultou num custo de cerca de 900 mil euros”.

Paulo Malafaia disse ainda a Francisco Pessegueiro não ter dinheiro para pagar a Souto Moura, preocupação que transmitiu a Patrocínio Azevedo, que o tranquilizou, dizendo: “eu compenso-o de qualquer maneira”.

Na perspetiva do arguido Paulo Malafaia, apesar dos elevados custos que resultaram da contratação de Souto Moura, imposta pelo arguido Patrocínio Azevedo, o negócio com Souto Moura revelou-se barato, explanando os benefícios obtidos em compensação: ‘consigo fazer o prédio mais alto do país, aquilo só tinha 12 pisos e já vai em 20 e tal pisos e já lá meti mais 40 e tal mil metros de construção’”, descreve o MP, sobre a conversa mantida entre os dois empresários do ramo imobiliário.

No decorrer do telefonema, Paulo Malafaia proferiu também a seguinte afirmação sobre o então vice de Gaia: “Isto são contactos que valem ouro, este homem vai ser o futuro presidente da câmara”.

Após a reprodução da escuta telefónica, a procuradora do MP questionou Patrocínio Azevedo se aquela era a realidade e o tipo de relação que mantinha com o empresário Paulo Malafaia e se este conseguia obter o que pretendia junto de si.

É mentira”, respondeu, sobre o teor da conversa, o antigo vice-presidente da Câmara de Gaia, que anteriormente já tinha negado ter imposto o arquiteto Souto Moura para o projeto Skyline/Centro de Congressos.

Questionado da parte da tarde pela defesa de Paulo Malafaia sobre o que queria dizer com a expressão “vendedor de gelados”, referindo-se ao seu cliente, o ex-vice de Gaia começou por pedir desculpa pela expressão, dizendo não saber responder.

Era um tipo de muita bazófia?”, perguntou depois o advogado Paulo Saragoça da Matta.

Era exatamente isso que queria dizer. Para não dizer que vendia pentes a carecas”, respondeu Patrocínio Azevedo, provocando risos na sala.

O MP sustenta que Elad Dror, fundador do grupo Fortera, e Paulo Malafaia “combinaram entre si desenvolverem projetos imobiliários na cidade de Vila Nova de Gaia, designadamente os denominados Skyline/Centro Cultural e de Congressos, Riverside e Hotel Azul”, contando com o alegado favorecimento por parte do antigo vice de Gaia, que receberia em troca dinheiro e bens materiais, como relógios.

O julgamento prossegue na terça-feira, 28 de janeiro, pelas 09:30.

 

Janeiro 22, 2025 . 15:23

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