(H)à educação
No campo das políticas educacionais temos assistido, ao longo de muito anos, à criação e à publicação de decretos-leis e de normativos que apelam ao aumento da autonomia das escolas públicas portuguesas.
O objetivo desta medida relaciona-se com a possibilidade de as escolas se tornarem mais flexíveis na tomada de algumas decisões, principalmente no que concerne às adaptações curriculares, para que se consiga dar respostas que atendam às especificidades e às necessidades de cada aluno, com vista ao seu desenvolvimento pleno, autónomo e responsável. No entanto, o caminho que as escolas têm vindo a percorrer nem sempre se revela fácil e linear, uma vez que a aplicação destas adaptações, embora necessárias, possa ser de difícil implementação.
Este cenário prende-se, muitas vezes, pela inexistência de uma cultura organizacional autónoma, onde os seus atores - docentes, alunos e lideranças - estejam inseridos, e onde estejam a ser orientados pela oportunidade de decidirem por si mesmos. O contexto da excessiva responsabilização existente, suscitado pelas instâncias superiores, sob o risco de alguma penalização, pode levar os atores a terem receio em tomar decisões, levando-os à adoção de comportamentos menos proativos, preferindo que as orientações continuem a vir do topo para a base, perpetuando um regime administrativo centralizado.
No contexto de uma sociedade democrática, fazer escolhas e participar nos processos de tomada de decisão torna-se fundamental, uma vez que são parte da nossa aprendizagem e da nossa evolução. Não apenas a nossa, enquanto profissionais, mas também daqueles que nos rodeiam e das organizações que integramos.
Na esteira de Paulo Freire, para quem a decisão é tida como um processo que se aprende, nada melhor do que o ambiente escolar para proporcionar a experiência de escolher, sem descurar o facto de que o ato de decidir exige assumir as consequências que as escolhas nos impõem. Porém, importa recordar de que isso é parte fundamental no processo de se tornar autónomo.
Ao aproveitar mais um ano que se inicia, fazer outras e novas escolhas, quando refletidas, pode-nos ser proveitoso para perspetivarmos as nossas vidas de uma maneira distinta. O místico momento que o início de um novo ano carrega em si, pela oportunidade do recomeço, pode-nos impulsionar a fazer as coisas de forma diferente.
As escolas portuguesas têm podido escolher alterar a sua realidade pedagógica, através da autonomia e da flexibilidade curricular, sob proposta de um normativo específico que tem como objetivo transformar o cenário da aprendizagem dos seus alunos. Olhando para a nossa investigação científica, que tem apontado para uma possibilidade real das nossas escolas estarem a recorrer à sua autonomia, ainda que algo contida, para desenvolver um trabalho adaptado e orientado para fazer a diferença na vida dos alunos, pergunto-lhes: estão prontos para fazer outras escolhas neste novo ano? Ou vão continuar a fazer tudo igual?