Teatro Camões recebe no sábado “As Cenas do Fausto”, obra-prima de Robert Schumann
A oratória profana “As Cenas do Fausto”, de Robert Schumann, é um obra-prima do Romantismo alemão, segundo o maestro Graeme Jenkins, que a vai dirigir no sábado, no Teatro Camões, em Lisboa, no âmbito da programação do Teatro S. Carlos.
Para o maestro inglês esta é uma oportunidade de descobrir a música de Schumann e uma “obra-prima” da qual até os alemães se vão esquecendo.
A opinião é partilhada pela soprano Ana Quintans, que faz parte do elenco e reconheceu à agência Lusa só agora ter entrado em contacto com a obra, que considera maravilhosa, sendo maior o seu conhecimento do repertório de canto e piano do compositor alemão
“As Cenas do Fausto” têm por base o poema de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), que publicou em duas partes a sua tragédia em verso, saídas em 1808 e 1832.
Fausto tornou-se numa das personagens mais prolíficas da arte e do pensamento ocidentais. É o homem que vendeu a alma ao Diabo, um cientista que troca a alma por mais conhecimento.
“Robert Schumann [1810-1856] não é um compositor operático, mas compõe com uma capacidade descritiva tal, em cada uma das cenas, que é notável”, realçou à agência Lusa Graeme Jenkins.
Schumann compôs especificamente para o poema de Goethe (1749-1832), inspirado numa lenda germânica do século XV. A oratória profana começa a tomar forma em 1844 e só em 1853 é terminada, pouco antes de o compositor reconhecer o seu colapso emocional.
Jenkins referiu que o autor terá exposto os seus sentimentos em partes da oratória.
Schumann apenas musicou cerca de cinco por cento do poema de Goethe, como disse à Lusa a soprano Ana Quintans, a quem foi dado o papel de Gretchen (Margarida).
O maestro disse que o maior desafio que a peça lhe apresenta reside na "sua dramática energia" e nos seus contrastes, tratando-se “da melhor música alguma vez composta”.
A gravação desta oratória, sob a direção do compositor e regente Benjamin Britten, com a participação do barítono alemão Dietrich Fischer-Dieskau, serviu de inspiração a Jenkins para trabalhar a obra-prima de Schumann. Vinda do início dos anos 1970, trata-se de uma das mais premiadas e reeditadas gravações do antigo catálogo Decca.
Para Graeme Jenkins “As Cenas do Fausto” inspiraram o repertório operático de Richard Wagner (1813-1883). Opinião com a qual concorda Ana Quintans, referindo que "há já essa ideia da alegoria, do simbólico, do transcendente, de uma procura incessante por alguma coisa, às vezes até conceitos metafísicos da vida".
O ambiente do poema insere-se no movimento artístico-filosófico romântico, com a transposição dos sentimentos das personagens para a natureza, referências ao transcendente, presságios, espetros, etc..
Jenkins dirige esta produção do Teatro Nacional de S. Carlos (TNSC) que conta com a participação da Orquestra Sinfónica Portuguesa e, como solistas, as sopranos Ana Quintans, Bárbara Barradas e Mariana Sousa, as contraltos Inês Constantino e Carolina Figueiredo, os tenores Leonel Pinheiro, Bruno Almeida e Sérgio Martins, os baixos André Baleiro, Tristan Hambleton e José Corvelo, além do Coro do TNSC.
O maestro realçou a prestação da OSP, referindo a sua evolução desde que a dirigiu pela primeira vez em 2017, e elogiou os cantores destacando o trabalho de Ana Quintans, “com um excelente fraseado” e a sua “competência no lieder germânico”, assim como o dos tenores e até do “jovem baixo britânico Tristan Hambleton, que vai muito bem”.
À Lusa Ana Quintans afirmou que esta é uma obra de “difícil abordagem”, desde logo pelo facto de Schumann ter composto especificamente para os poemas de Goethe”.