
Compra de encomendas por abrir, um “tiro no escuro” a que poucos resistem
Sandra Simões
A tentação de receber um “prémio” é grande e vem de muito longe. São as rifas, as raspadinhas, a lotaria, o Euromilhões, jogos eletrónicos... e agora há a Blind Shot, que abriu portas na terça-feira, em Aveiro. De acordo com a gerente, Sara Monteiro, o mercado das encomendas por abrir é um fenómeno noutros países e começa agora a ser conhecido em Portugal, acreditando que a Blind Shot é das primeiras a apostar no conceito de loja, com espaço físico aberto ao público. Já se implantou no Porto, esta semana foi em Aveiro, na Avenida Dr. Lourenço Peixinho, devendo seguir-se Viseu. A gerente, que embarcou nesta aventura com expetativas altas, explicou ao Diário de Aveiro que «temos encomendas com várias proveniências, como Shein, Temu, Amazon, Vinted, AliExpress... entre muitas outras marcas, de todo o mundo e que, por alguma razão, não chegaram ao seu destino», garantindo que «não sabemos o que está dentro. Está tudo embalado e o cliente pode mexer, abanar, apalpar, só não pode abrir as embalagens. É um verdadeiro “tiro no escuro” (como refere o nome da loja)», em parte alimentado pela vontade irresistível de se ganhar alguma coisa interessante e de valor superior ao investido.
Na prática, o cliente entra, mexe e remexe nas embalagens, faz a sua escolha e segue para o balcão de atendimento para a pesagem. Aqui, o preço é atribuído em função do peso - até dois quilos: 24,99 euros/quilo; de dois a quatro quilos: 22,99 euros/quilo; mais de quatro quilos: 19,99 euros/quilo.
Sobre o dia de inauguração, que quase deixava a loja sem “stock”, Sara Monteiro avançou que “saiu” de tudo um pouco, desde “tablets” e sistemas de videovigilância até parafusos e lâmpadas, roupas, brinquedos...». Mas foi dizendo que, «mais do que comprar alguma coisa, o cliente vive uma experiência, e é assim que gostava que olhassem para este conceito», referindo-se ao processo de escolha, de abrir as embalagens, de descobrir o que contêm... é tudo uma experiência e ir gerindo o misto de expetativa e entusiasmo.
Uma curiosidade que partilhou prende-se com as dinâmicas do público. «No Porto, notamos que as pessoas ficam ansiosas por abrir as encomendas e fazem-no logo na loja, até temos um espaço para esse efeito, e costuma ser acompanhado de perto pelos nossos colaboradores, que também vibram com o cliente. Em Aveiro, o comportamento tende a ser diferente: preferem levar para casa e abrir mais tarde, com amigos ou familiares».
Recém licenciada em Direito, Sara Monteiro vem de uma família de empresários e o espírito empreendedor está-lhe no sangue. Há muito que gostava de ter um projeto e optou por este conceito, com o apoio dos pais e em parceria com um primo. «Acreditamos que terá futuro, até porque as encomendas não reclamadas não têm fim».