Aveiro esquecido: falta de peso político ou simples má-fé?

Março 15, 2025 . 12:00
Aveiro vive atualmente numa espécie de limbo político, sistematicamente ignorado pelo Governo central e incapaz de mobilizar forças locais que contrariem essa tendência.

Os exemplos são tantos e tão claros que se torna difícil aceitar que sejam apenas coincidências ou falhas pontuais.
Há menos de um ano, Luís Montenegro e a sua comitiva visitaram Aveiro em clima eleitoral, trazendo consigo a habitual enxurrada de promessas: a requalificação urgente do hospital, a modernização da Linha do Vouga e a resolução das portagens da A25 foram apresentadas como prioridades. Porém, num ápice, todas essas promessas se evaporaram. A requalificação do hospital desapareceu das prioridades nacionais, e a região de Ovar saiu da Unidade Local de Saúde do Baixo Vouga, preferindo juntar-se à de Santa Maria da Feira perante o silêncio quase total do executivo aveirense e da Comunidade Intermunicipal, incapazes de se afirmar em defesa do interesse regional.
O caso da Linha do Vouga é, talvez, o mais ilustrativo desta atitude negligente. Num troço que serve mais de 20 mil habitantes entre Aveiro e Eixo e que poderia ser um eixo privilegiado de mobilidade e dinamização económica, circulam comboios a diesel a velocidades próximas dos 20 quilómetros/hora, num traçado perigoso e obsoleto, em que em determinados pontos quase se pode tocar nas casas vizinhas. Não fosse o esforço incansável do Movimento Cívico pela Linha do Vouga (MCLV), talvez esta linha já tivesse sido encerrada e transformada numa ciclovia qualquer - uma solução simplista, típica da visão estreita e limitada dos decisores públicos portugueses.
Também nas portagens da A25, Aveiro é vítima de uma incoerência governativa flagrante. Enquanto praticamente todo o interior vê desaparecer as suas portagens, os aveirenses continuam a pagar não só os seus próprios pórticos (Estádio e Albergaria-a-Velha), como também contribuem, através dos seus impostos, para financiar as portagens eliminadas noutras regiões. Tudo isto por força de uma concessão distinta que termina apenas em 2031, sem que nenhum responsável político local se faça ouvir com firmeza.
Para piorar, o Governo nem sequer avançou com os estudos da ligação ferroviária Aveiro-Viseu-Guarda-Salamanca, um projeto prioritário para a União Europeia no âmbito do Corredor Atlântico até 2040 (RTE-T). Preferiu ceder ao “lobby” organizado da dinâmica associação Vale D’Ouro e apostar numa rota alternativa, enquanto as instituições aveirenses ficaram a assistir passivamente. Se estivesse em causa uma nova autoestrada, certamente a história seria diferente e já estaria construída.
Também outros projetos importantes para a cidade permanecem esquecidos ou indefinidos: a prisão sobrelotada, as instalações obsoletas para PSP e GNR, o prometido quarteirão judicial ou mesmo o projeto OIRASE e as áreas afetadas pelos incêndios continuam à espera, vítimas de uma inércia preocupante e inexplicável.
Perante este cenário, acumulam-se dúvidas incómodas: será Aveiro alvo de má-fé política ou simplesmente vítima da inércia dos seus representantes locais? Quem paga o preço são sempre os cidadãos, reféns da eterna ausência de respostas concretas e eficazes.
Portugal vai novamente a votos em maio; resta saber se os políticos locais terão memória suficiente para cobrar, desta vez, a fatura pelas promessas quebradas em menos de um ano.

Março 15, 2025 . 12:00

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