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“Pela Lente Do Repórter”, um livro de poesia para desassossegar quem o lê

Julieta Aleluia diz-se irremediavelmente rendida ao prazer de escrever, quase como se de sobrevivência se tratasse. Dia 13, na Galeria Morgados da Pedricosa, lança mais um livro, de poesia, «fruto de um mundo em colapso»

Diário de Aveiro: Entre romance e poesia, a poesia pesa mais?
Josefa de Maltesinho (Pseudónimo de Julieta Aleluia): Namoro mais a poesia, é inequívoco, a deusa acedia-me a tal ponto que eu acabo sempre rendida aos seus encantos, mas não sei dizer se será porque tem mais peso na minha vida. Sei, isso sim, que tanto a prosa como a poesia me fascinam e vestem a vida de um arco-íris difícil de encontrar noutro qualquer céu. Escrever um romance, pesquisar horas a fio, tecer-lhe a teia, as personagens, ter o seu destino nas nossas mãos, é aliciante. Já na poesia nada há de ficção, ela brota de dentro de nós, despojada de enredos, como se um rio a correr através dos sentires com que vemos e auscultamos o mundo que nos rodeia. Tantas vezes em ferida aberta, em situação de caos. Se não falamos de nós, de tudo o que nos habita como indivíduos singulares, falamos do outro, do que nos é dado ver ou simplesmente adivinhar. Nestas lides somos bons a adivinhar, porque sendo diferentes, somos todos iguais naquilo que há de mais intrínseco no ser humano. Claro que podemos igualmente inventar personagens, mas elas virão sempre guiadas pelas nossas vivências e sentires próprios. Talhadas à nossa semelhança. Talvez na ânsia da expurgação, tudo isso se atire para o papel por impulso, na busca de um alívio necessário. Acredito que sim. E estão muito enganados todos os que pensam ser a poesia uma brincadeira de escrever sobre o joelho, não, ela é coisa séria e de muita luta, rouba-nos imensas horas de sono, até se dar por satisfeita com o resultado final. Acreditem, não é fácil.

“Pela Lente Do Repórter” é mais um livro de poesia. Como o definiria?
A essência deste meu mais recente livro de poesia, “Pela Lente Do Repórter”, é precisamente aquela que referi na questão anterior. Vivemos num mundo pelo qual também somos responsáveis, quer queiramos quer não, governado por más escolhas, alardeado por silêncios e muita indiferença pelo sofrimento alheio, atolado em guerras, ódios diversos, negociatas da pior espécie. Como me é impossível permanecer indiferente a tudo isto, lá vem a poesia de dentro de mim a adivinhar-me os pensamentos e a reivindicar por um lugar de palanque no papel. E eu faço-lhe a vontade, que também é a minha: a de querer desassossegar quem a lê. Serve de alguma coisa? Talvez não, talvez sim, por pouco que isso seja.

Porque o escreveu? O que a inspirou?
Escrevi-o pela necessidade que senti de tocar com dedos de agarrar à força, que seja, um assunto que me aflige de sobremaneira. E a poesia também serve para essa empreitada. As suas flores também florescem pedras no nosso caminho. É bom que assim seja. E que as saibamos transpor.
Quem, de boa-fé, pode ficar impassível perante as horríveis imagens que diariamente nos chegam através dos meios de comunicação. A propósito ou a despropósito, também acontece; aquela luta pelas audiências que nem sempre olha a meios para atingir os fins, outra questão pertinente. E nós, aqui, sem podermos fazer nada a não ser assistir, lamentar, refilar entre quatro paredes.

O que acrescenta ao seu percurso literário?
Será apenas mais um livro a acrescentar aos que já escrevi e aos que ainda tenho como objetivo escrever, assim a vida não me troque as voltas. Dele, posso afiançar que, tal como todos os outros já editados, nasceu de uma “relação conturbada”, fruto de um mundo em colapso e um espírito inquieto, pouco acomodado, por convicção, aos sofás da vida.
Já deixar de escrever ou aprisionar o que escrevo numa gaveta, não faria qualquer sentido para mim. Se escrever começa por se definir como sendo um ato de solidão tão consentida quanto desejada, depressa passa a ser algo com absoluta necessidade de partilha.Sentir que entre a minha escrita e os leitores se forma um elo de ligação, um eco que se cruza em determinado ponto, é-me incrivelmente gratificante, enquanto poeta.

Porquê o título “Pela Lente Do Repórter”?
O título torna-se evidente para quem ler o livro. Através da lente do repórter chega-nos o mundo, todas as cores com que se pinta, desde a mais negra à mais colorida. Sem ela viveríamos numa enorme ignorância e eu talvez não tivesse tido material nem inspiração para escrever esta obra. Quero aqui deixar a mais sincera e profunda homenagem àqueles que, em qualquer palco de catástrofe, diariamente arriscam com enorme coragem a vida para nos fazerem chegar todas as atrocidades praticadas pelos homens contra o seu semelhante e a natureza, a casa maior. São eles os primeiros a denunciar, tantas vezes pagando com aquele preço demasiado alto, no qual ninguém quer pensar. Um bem-haja a todos eles.

 

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Abril 7, 2025 . 09:30

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