Dezenas de enfermeiros do Amadora-Sintra exigem fim de discriminação salarial
Dezenas de enfermeiros estiveram hoje concentrados em frente ao Hospital Amadora-Sintra para exigir as mesmas condições salariais dos restantes enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde, alertando que se isso não acontecer centenas de profissionais podem deixar a unidade.
Fardados e com cartazes com inscrições como “Cuidem de quem cuida”, “Os enfermeiros do HFF têm razão”, “Sem valorização não há motivação”, os profissionais exigem ser abrangidos pelo acordo assinado em setembro entre o Ministério da Saúde e uma plataforma de cinco sindicatos, que prevê um aumento salarial de cerca de 20% até 2027.
A trabalhar há 13 anos na Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra, Andreia Almeida, enfermeira do serviço de urgência, afirmou que os enfermeiros estão “extremamente preocupados” com o que lhes parece ser “uma grande injustiça”: receberem menos dinheiro do que os enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Em 2027, prevê-se que seja uma diferença no nível base de cerca de 340 euros”, disse a enfermeira, enfatizando que basta os profissionais procurarem emprego em outro hospital do SNS, mesmo ao lado, para terem “uma valorização remuneratória totalmente diferente”.
“Temos todos o mesmo nível de formação e, portanto, não entendemos por que motivo é que agora não somos contemplados por aquela que parece ser a vontade de valorizar a nossa formação e a nossa profissão no SNS”, defendeu Andreia Almeida.
Enfermeira chefe no hospital, Luísa Ximenes disse à agência Lusa que os enfermeiros decidiram, “de uma forma espontânea”, fazer o protesto para tornar público o que já fizeram de forma oficial, através de uma carta escrita por mais de 600 enfermeiros em que apelam à administração para os apoiar.
“Eles amam o seu hospital, gostam do Serviço Nacional de Saúde, onde pertencem e estão por opção, acreditam na reestruturação do SNS e no seu papel primordial num hospital que serve tanta gente, mas não os desmotivem” porque se arriscam a que, “daqui a uns tempos, haja uma debandada”, e os poucos que ficarem, “vão ficar altamente desmotivados”, alertou.
Segundo Luísa Ximenes, a administração do hospital já garantiu que está do lado enfermeiros, apesar de não estar nas suas mãos resolver esta matéria.
“Por isso, apelo a quem nos tem de defender, os sindicatos, que venham rapidamente negociar com a administração, que está aberta para isso, de forma a mantermos o nosso acordo de empresa e acompanhar os aumentos salariais”, disse.
As enfermeiras chefes também escreveram uma carta à tutela, que reuniu 1.000 assinaturas de enfermeiros em dois dias, mas ainda não tiveram resposta, adiantou.
De acordo com Luísa Ximenes, os enfermeiros da ULS Amadora-Sintra são os que têm, neste momento, o ordenado base mais baixo de toda a função pública: “Ganhamos apenas de base 1.300 euros, enquanto os outros ganham mais 80 [euros], e fazemos 36 horas semanais em vez de 35 horas”.
“O que acontece é que nós progredimos um pouco mais rápido e é esse direito, que é um direito e não é um privilégio, que alguém tenta tirar fazendo chantagem. Se não perdemos o direito, não somos aumentados e, isso, não vamos permitir”, frisou.
Presente no protesto, a presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, Lara Franco, disse estar solidária com “o sentido de injustiça e com os sentimentos de desmotivação” dos profissionais.
“A desmotivação tem um impacto direto na prestação de cuidados, sobretudo num hospital que já tem défice em termos de enfermeiros”, disse, sublinhando que serviços como a Urologia, Ortopedia, Medicina, têm menos de 50% dos enfermeiros que deveriam ter.
Lara Franco avisou que se há enfermeiros desmotivados, é preciso “apostar, sobretudo, em estratégias de retenção” destes profissionais “altamente qualificados”, o que disse não estar a acontecer.
“Se temos neste momento mais de uma dezena de camas encerradas neste hospital por falta de enfermeiros, se não forem corrigidas estas situações, vamos ter muito mais camas encerradas por falta de enfermeiros e com consequências diretas em termos até de mortalidade dos nossos doentes”, alertou.