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Companhia de Teatro de Sintra denuncia violência doméstica com peça "As ressuscitadas"

A peça fica em cena na Casa de Teatro de Sintra até 8 de dezembro, com récitas às quintas-feiras e aos sábados, às 21:30, e aos domingos às 16:00

A Companhia de Teatro de Sintra estreia hoje, na Casa de Teatro da vila, a peça “As ressuscitadas” sobre “a desigualdade de género numa sociedade patriarcal e a misoginia que ainda existe na perspetiva de homens e mulheres”.

Violência doméstica, a nível psicológico e maus-tratos físicos, assédio moral e sexual, opressão, coação, alcoolismo, frustrações, o peso das imposições sociais, assim como a entreajuda e sororidade são temas transversais à peça, acrescentou em entrevista à agência Lusa Susana C. Gaspar, que encena e interpreta, com os outros dois diretores artísticos da companhia, Paula Pedregal e Nuno Correia Pinto, o que acontece pela primeira vez no grupo.

As ressuscitadas”, um texto inédito do professor e dramaturgo Miguel Falcão, vencedor do Prémio Nacional de Artes do Espetáculo Maria João Fontainhas 2022, “inspira-se na história fictícia de duas mulheres, mas que poderíamos ver acontecer ao nosso lado”, observou.

Histórias “muito repetidas na nossa sociedade, histórias de vidas duras” e que, “na vida real”, são visíveis “em casas de acolhimento” ou “nos muitos casos de mulheres que ainda são obrigadas a fugir e a largar as suas vidas para se esconderem dos homens que as perseguem e violentam”, frisou.

A ação da peça centra-se em Guilhermina, conhecida como Winnie, e Hermínia, com cerca de 50 e 40 anos, respetivamente. A primeira provém de um meio rural, é vítima de violência doméstica, quer a nível psicológico quer de maus-tratos físicos, cometidos pelo marido.

A segunda, “uma mulher muito solitária, sem família” oriunda de um meio urbano, foi observada e perseguida por um homem, que conhece num café, e começa a conquistá-la “devagarinho”, e por quem Hermínia se apaixona.

Hermínia torna-se vítima de furto, chantagem, coação psicológica e assédio moral. O homem por quem se apaixonou acaba por confessar-lhe que a perseguiu, observou, lhe estudou as rotinas, acabando por assediá-la sexualmente, o que a levou a fugir.

Com percursos diferentes, as duas mulheres acabam por se encontrar no cemitério onde Guilhermina auxilia o marido - o coveiro, Willie (o casal esteve emigrado nos Estados Unidos durante um longo período antes de regressar a Portugal) - e se “resguardam e escondem numa sepultura”.

Uma metáfora suficiente para ilustrar aquilo que se passa muitas vezes com as vidas destas mulheres que têm de se esconder dos seus perseguidores”, disse Susana C. Gaspar.

Próxima de uma “estética expressionista” em que “cada gesto conta e onde fica tudo mais focado nas palavras do texto”, a cenografia da peça fixa-se numa estrutura de madeira de cerca três metros correspondendo ao solo, e numa área inferior, a sepultura, onde decorre a maior parte da ação, indicou.

À medida que Guilhermina e Hermínia vão partilhando histórias e cumplicidades, a ação é perpassada por um “elemento de conflito e tensão” ao qual não é alheio um monólogo de Willie, personagem que, “apesar de entrar pouco no espetáculo, tem uma presença muito importante”, explicou Susana C. Gaspar.

A peça não aborda apenas a discriminação “intrínseca que certas mulheres têm em relação a outras”, a violência exercida por homens sobre mulheres, cujos números são “muito maiores” do que na situação inversa, mas também se foca na “perspetiva da questão cultural e sistémica que ainda existe na sociedade atual e que é transversal”, enfatizou.

As Ressuscitadas” tem ambiente físico e sonoro do artista plástico e cenógrafo Luís Santos e do músico e compositor Pedro Branco. O desenho de luz é de Rui Seabra e a direção de atores de Susana Arrais.

 

Novembro 28, 2024 . 12:30

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