Museu de Espinho apresenta “Uma exploração do lixo”
O Museu Municipal de Espinho inaugura no sábado, às 15.30 horas, a exposição “An exploration of trash”/”Uma exploração do lixo”, que reúne 35 obras da artista Kideo Kidō e reflete sobre o excesso de consumo e o valor do lixo quando transformado em obra utilitária.
Sustentabilidade, imperfeição e intencionalidade são algumas das questões analisadas nos trabalhos de pintura, instalação, vídeo, fotografia e escultura que a artista exibirá até 22 de fevereiro.
As obras expostas partem de duas questões que a autora portuguesa, de nome Isa Magalhães, identifica na sinopse dessa exposição de entrada livre: «numa sociedade de consumo, que diariamente é impelida a adquirir, a colecionar, a levar para casa mais alguma coisa, “só porque sim”, o que fazemos com o excesso, com a quantidade de matéria que se vai produzindo, que se vai acumulando, num círculo vicioso de consumismo que gera produção e desejo? Somos nós que consumimos esses objetos ou são eles que, sem sabermos, nos manipulam em proveito de um desafio maior, irreconhecível, malicioso até?».
Kideo Kidō recorreu ao “stock” inutilizado de empresas e fábricas e aos excedentes dos seus próprios projetos artísticos. Manipulando papel, cartão, plástico, tecido, vidro sintético, ferro e madeira, transformou-os: o papel sem uso foi convertido numa escultura de grandes dimensões, o vidro sintético foi aplicado num objeto interativo, as sobras de madeira converteram-se em telas para pintura e colagem de tecidos.
O potencial desses materiais para uma segunda vida foi identificado quando a artista desenvolveu um projeto comunitário em Espinho e percebeu, pela reação dos participantes ao interagirem com o lixo recolhido nas praias, que o desperdício os preocupava e tinham «vontade de transformar algo inutilizado num objeto novo».
Citada pela agência Lusa, disse que «nas exposições realizadas, depois, em vários equipamentos da cidade de Espinho, no Centro Multimeios, na biblioteca municipal, no Fórum de Arte e Cultura e no Centro Azul, os visitantes não demonstraram quaisquer preconceitos com esse material reutilizado, olhando para ele como uma nova matéria artística».
Com recurso ao que outros consideraram «dispensável», a autora concebeu peças em que a matéria-prima de base ganhou novas leituras ao cruzar--se com «simbologias muito concretas de cariz social, político, económico, cultural, religioso e até sexual».
Testemunhou que, perante o trabalho final, o público tem sabido desafiar-se: «o que as pessoas me têm dito é que estes trabalhos as ajudam a repensar, no seu dia a dia e até nos seus empregos, a forma como olham os materiais», afirmou.
A mostra no Museu de Espinho não é apenas sobre sustentabilidade, é também sobre «a materialidade de texturas e objetos», no sentido literal, tátil, das superfícies em causa e no sentido lato, ao mesmo tempo social/económico/profissional, de que «brincar com os conceitos e explorar as possibilidades de perceção e intenção» é parte do processo de «transformar estes materiais em peças vendáveis».
A autora garantiu que «cada vez mais os galeristas e compradores se interessam por esta arte, que advém de sítios menos habituais», sublinhando que tem sentido «procura destes trabalhos por parte de vários interessados». Acentuou que «o importante não é demonstrar, na essência, que o material é reciclado - o que importa é focar a mensagem no resultado, na forma como tudo isto se transforma em algo novo».