Por um lado, o marketing digital oferece ferramentas poderosas para ampliar o alcance e a visibilidade de obras artísticas. Por outro, a pressão por métricas e desempenho pode diluir a essência criativa, priorizando tendências do mercado em detrimento da expressão genuína. Nesse equilíbrio delicado entre a arte e o mercado residem tanto desafios quanto oportunidades para o futuro da criatividade.

O impacto do marketing digital no cinema
O cinema sempre se destacou como um reflexo da sociedade, retratando emoções, contextos históricos e transformações culturais. Com o crescente protagonismo do marketing digital, a promoção e o consumo de filmes passaram por mudanças significativas, revolucionando a forma como as obras cinematográficas são divulgadas e consumidas pelo público.

O lançamento de “The Blair Witch Project”, em 1999, foi pioneiro nas campanhas digitais. Muito antes de existirem “influencers” e “hashtags trending”, este filme já jogava no campo do marketing digital, com ferramentas da época: uma narrativa paralela na Internet que fazia o público acreditar que a história era real. Discussões nos fóruns e blogues existentes e, também, “trailers” misteriosos fazem parte da abordagem que proporcionou ao público uma experiência imersiva e foi capaz de criar um interesse massivo e, consequentemente, o aumento do impacto da produção.

No cenário atual, é de assinalar filmes como “Dune” (2021). A abordagem com “trailers” exclusivos para as redes sociais, conexão entre tendências e o ambiente do filme e a criação de conteúdo épico resultou num grande “hype” digital que conseguiu não só prender a atenção de milhões de pessoas ao pequeno ecrã, como convencê-las a assistir ao filme na maior tela possível.

A obsessão por métricas de “engagement” muitas vezes empurram a narrativa para um terreno mais raso, priorizando o que é comercialmente seguro na vez de explorar uma maior profundidade artística. E aí surge a questão: até que ponto a arte consegue moldar-se às regras do mercado sem perder aquilo que a torna verdadeiramente única?

Música: a procura pela
autenticidade no digital
Muitos músicos enfrentam o dilema de equilibrar a autenticidade com as exigências do mercado, porém, a inovação digital pode ser uma forma de criar experiências autênticas e ampliar o público sem perder a essência artística. Na música, a digitalização redefiniu a relação entre os artistas e o público. Plataformas como o Spotify, Apple Music e YouTube permitiram que músicos independentes alcançassem audiências globais sem depender exclusivamente de grandes gravadoras.

Estas plataformas são, muitas vezes, criticadas pela oferta de uma remuneração pouco adequada. Taylor Swift, em 2014, retirou a sua discografia do Spotify exatamente em protesto por essa causa: dificuldades enfrentadas pelos artistas no modelo de negócio orientado para o “streaming”. Na música, também se assistiu à ascensão de novos formatos - tendências no TikTok que frequentemente promovem canções, ou excertos delas -, o que tem transformado a criação musical numa ferramenta de viralização, em vez da crua e pura expressão artística.

Por outro lado, plataformas como o SoundCloud já permitiram a inúmeros artistas crescerem e afirmarem-se globalmente. Billie Eilish é um exemplo disso, e o sucesso que atingiu demonstra que sim, é possível equilibrar autenticidade com as estratégias do digital eficazes.

O desafio da autenticidade
O principal desafio do artista será entre ser um criador genuíno e ser um produto. A arte deve ser orgânica e livre, mas as plataformas digitais oferecem uma oportunidade única para amplificar a voz do artista e conectar-se de forma mais profunda com o público.

O futuro da arte no marketing digital será moldado por uma negociação constante entre a autenticidade e o mercado. As plataformas digitais oferecem oportunidades únicas para adquirir audiências e ter uma maior liberdade criativa, mas também suportam desafios relacionados principalmente à pressão por resultados. Manter o equilíbrio entre esses dois aspetos será fundamental para garantir que a arte permaneça fiel à sua essência, enquanto se adapta a um mundo em constante evolução.